Pular para o conteúdo principal

Agonia

Corria enlouquecidamente através do campo sem olhar para trás, sentia que estavam logo a lhe alcançar.

Sentia os galhos batendo em suas pernas e rosto e cortando suas roupas, não fazia ideia de aonde estava, só continua a correr.

Não lembrava nem o motivo de estar correndo, do que estava fugindo ou porque. Nada isto importava só havia a trilha a seguir.

Em algum momento do caminho perdeu um dos sapatos e acabou por jogar o outro fora. Não fazia diferença, era até outro obstáculo que podiam usar para lhe encontrar. Seguiu sua jornada. A trilha acabou num matagal, teve que abrir caminho de forma dolorosa por entre a mata fechada, sentia-se cada vez mais exausto.

O cheio de suor se misturava ao cheio da terra e os barulhos de animais. Longe de sentir medo, sentia-se alvoroçado. Não sabia o porque. Só sabia que tinha que continuar em frente. Sempre.

Chegou a um rio. E agora? Teve que parar. Não podia parar. Tinha que continuar.

Começou a andar em círculos sem sair do lugar, tinha que andar, tinha que andar. Tinha que andar!
A margem ficava muito longe, não sabia nadar. Não podia andar pelo rio. Devia haver um modo. Tem que haver um modo!

Enlouquecido, não viu a serpente que espreitava atrás das pedras do rio.

Uma mordida e em pouco tempo o desvario secou. Simplesmente sentou-se e contemplou seu fim sem sequer se emocionar.

Não lembrava quem era, nem se importava. Tudo se resumia aquele momento e na sensação que corria pela suas veias e entorpecia seu corpo.

Aos poucos não precisava mais correr, nem pensar. Já não se movia, apenas existia até que isto sessou também.

Encontraram o executivo chefe da empresa que havia ganhado o prêmio revelação do ano num estado lastimável. Laerte estava lesionado com a roupa em frangalhos e uma expressão de desvario no rosto.
Ninguém sabia o que havia acontecido, receberá um pacote e assim tinha ficado. A policia investigou mas o pacote já havia desaparecido. Desconfiaram de inimigos e de tramas ocultas, mas nunca se soube o que havia acontecido ou o que havia transtornado tanto o homem a ponto de caminhar tão loucamente da capital de São Paulo até o interior descalço. Apenas para ser mordido por uma cascavel.

Assassinato? Culpa por algo que fez? Este mistério nunca se resolveu e em seu funeral ninguém chorou o homem que passava mais tempo a trabalhar do que viver. Mas o que se comentou foi que ele morreu como ele mesmo disse que vivia: Na Correria.


E esse foi um conto de Josy Santos!
Este conto foi criado para um desafio literário. E então o que acharam?

Me aventurando no mundo das letrinhas há cerca de um ano, incentivada pela Dany Fernandez.

Publiquei três contos em duas coletâneas desde o ano passado e aos poucos vamos indo cada vez mais.

Espero que gostem da leitura ou não e comentem e deixem sua opinião!


Abraços ;)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CARMEM

Sinopse: Amélia é uma jovem governanta começando seus trabalhos na Mansão Stern após ser contratada pelo excêntrico milionário Cássio. Aos poucos ela descobre que a mansão abriga mistérios e que giram em torno da pequena Carmen, a irmã mais nova. Será que Carmen é apenas uma menina deslocada ou haveria um motivo sobrenatural para sua estranheza? Mergulhe nesse mistério e descubra com Amélia o que pode acontecer nas sombras da mansão. LEIA UM PEDAÇO DO PRIMEIRO CAPÍTULO:  A charrete me deixou na entrada de uma estradinha de terra batida, ladeada por mato alto e árvores. O condutor me disse que, seguindo por ali chegaria ao meu destino. Agradeci a carona e segui. Aqui e acolá, as pedras me faziam pisar em falso, meus sapatos não estavam acostumados. Me parabenizei mentalmente por ter escolhido um vestido cuja barra ficava pouco acima dos tornozelos. Do contrário, teria uma boa quantidade de terra nas roupas. Sentindo o peso de minha maleta, rezei para que a estrad...